Apesar das perdas do setor em consequência de severas estiagens e enchentes, carteira do banco público gaúcho voltada ao crédito rural mantem tendência de alta, com expressiva expansão de financiamento na reta final do ano passado
Mesmo com um ano de grandes dificuldades causadas pela enchente para o Rio Grande do Sul e para os produtores rurais gaúchos, o Banrisul conseguiu ampliar significativamente sua carteira de crédito rural e prestar apoio aos agricultores e pecuaristas do estado.
A carteira de crédito rural do Banrisul cresceu 20,6% no ano passado, passando a R$ 13,7 bilhões, continuando uma tendência já registrada pelo banco público gaúcho nos últimos anos, inclusive em períodos de safras adversas. Em 2022, chegou a crescer a carteira em 62,9%.
O crédito rural é relevante para o Banrisul, tanto pela forte presença do banco no estado – apesar de ter agências em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal, a maior parte de seus negócios e clientes está no estado-sede – quanto pela importância da agropecuária na economia local.
No Brasil o setor representa cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB), no RS essa participação chega a aproximadamente 15% do PIB local, conforme dados do governo gaúcho e do IBGE.
Não é por acaso, que 22,1% de toda a carteira de R$ 62,058 bilhões do banco dos gaúchos está no crédito rural.
Sendo que que a maior parte da carteira rural do Banrisul é de pessoas físicas, o volume deixa o banco dos gaúchos não tão longe assim de outra instituição financeira com presença em todo o território brasileiro e forte no agro, que é o Bradesco, que registrou uma carteira rural de pessoas físicas de R$ 25,2 bilhões em 2024.
Depois do crescimento acelerado dos últimos anos, o Banrisul espera que sua carteira de crédito rural continuou crescendo, ainda de que de forma menos acelerada.
“Vemos uma acomodação, porque a carteira já tem um volume bem mais expressivo do que no passado“, afirma o superintendente executivo de agronegócio Robson Oliveira Santos.
“Se crescessemos 60% como em 2022, isso seria o equivalente a passar bastante da faixa de R$ 20 bilhões. É estruturalmente impossível“.
Em contrapartida, o volume concedido no crédito rural teve um pequeno recuo de 1,5% em 2024, passando a R$ 8,754 bilhões, ante R$ 8,886 bilhões em 2023. “A gente considera esse número estável, porque 1% em cima de bilhões de reais é quase nada” diz o superintendente do agro do Banrisul.
O Banrisul passou o ano de 2024 focado em manter o produtor rural em atividade, segundo Santos, por orientação do próprio presidente da instituição, Fernando Lemos.
A proximidade dos produtores, nesse sentido, tornou-se uma vantagem para a instituição conseguir viabilizar as mais de 20 normas editadas pelo governo federal para crédito rural no ano passado, de forma a amparar os produtores gaúchos, afirma Santos.
Presente em todos os 497 municípios gaúchos, o banco mantém 471 agência em 118 pontos de atendimento. “Por estar muito próximo de cada produtor, a gente conseguiu ver muito bem qual era o nível de prejuízo, de perda e de necessidade de apoio que as diferentes cidades, diferentes regiões e diferentes produtores precisavam“, diz Santos.
De toda a carteira de crédito rural do Banrisul, 90% é composta por produtores rurais pessoas físicas, produtores de culturas como soja, milho, trigo, arroz e pecuária de corte, as principais atividades agropecuárias gaúchas.
Além disso, o Banrisul também tem operações com cooperativas e grandes empresas do agronegócio, não apenas no crédito rural, mas também em outras categorias como câmbio.
Para 2025, a expectativa do Banrisul, segundo Santos, é seguir crescendo, amparado na recuperação do setor produtivo local pós-enchente, mesmo sob condições macroeconômicas mais difíceis.
O banco continua esperando que o RS tenha uma boa safra, apesar das últimas semanadas, sob forte calor, terem indicado problemas de produtividade e a possibilidade de quebra de ciclo – a consultoria Agroconsult, por exemplo reduziu em 4 milhões de toneladas sua previsão para a safa de soja no Estado.