sábado, maio 4, 2024
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Sistema de saúde brasileiro paga caro pelo uso abusivo de agrotóxicos

Fábricas de veneno têm o Brasil como um dos principais mercados e sistema de saúde é quem sente o peso do modelo agrícola, apesar da subnotificação

O Brasil aplica mais de 720 toneladas de agrotóxicos na produção agrícola e metade dos produtos é considerada altamente perigosa à saúde. Tal modo de cultivo causa doenças e traz elevado custo para os sistemas de saúde público e privado. Além disso, a subnotificação das intoxicações esconde a realidade e dificulta o correto enfrentamento do problema.

O uso de agrotóxico está banalizado e até a enxada já perdeu seu lugar para o veneno. Ronda Alta, cidade com pouco mais de 10 mil moradores no extremo Norte gaúcho, comercializou 144.870,078 litros (ou 53.626,426 quilos) de ingrediente ativo de diferentes tipos de agrotóxicos em 34 mil hectares de soja, milho, trigo e aveia, o equivalente a 13,62 litros de veneno por habitante em 2018. “Enxada ninguém mais tem. Ninguém mais quer. Ninguém mais usa”, relata uma agricultora do município, ao participar de uma pesquisa científica sobre agrotóxicos agrícolas e notificação de intoxicações exógenas.

O estudo produzido pela nutricionista da secretaria da Saúde de Ronda Alta e mestra em Ensino na Saúde pela Ufrgs Carla Agostini ouviu 144 agricultores e usuários da saúde em 2023, considerada população exposta a essa realidade. Carla atua há 20 anos na Atenção Básica de Saúde em Ronda Alta e destaca que foi a primeira vez que o tema dos agrotóxicos foi abordado sob o olhar da saúde e não da agricultura.

O mais grave foi ver o quanto “esta cultura” dos agrotóxicos está impregnada em nossa cidade, a ponto dos agricultores, que são o grupo que sofre os maiores impactos visto que habitualmente lidam com esses produtos, ignoraram completamente os riscos que os agrotóxicos oferecem à saúde”. Segundo ela, eles desconsideram cuidados mais básicos de proteção, como uso de máscaras e luvas, porque “acham que estão mexendo com água”.

A profissional de saúde lembra que cada morador tem seu relato sobre o impacto das substâncias à base de herbicidas, inseticidas ou fungicidas. Um, por exemplo, derrubou o boné dentro do pulverizador com o veneno já diluído. Sem qualquer temor, coloco-o de volta na cabeça e continuou o serviço com o boné encharcado. Passou muito mal, mas não foi ao médico.

Outro se intoxicou ao trabalhar com semente de milho à base de agrotóxicos, ficou ruim e agora não pode nem sentir o cheiro desse produto químico que passa mal. Além disso, muitos passam veneno nas lavouras, o vento o traz para cima das casas, depois se coleta água da chuva e se usa para molhar alfaces, a planta morre ou enruga. “São casos cotidianos na realidade local, comuns”, observa Carla.

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